Enquanto todos dormiam, a insônia me beijava ardentemente os lábios, um lobo faminto me saltava da mente, um rio turbulento me inundava os olhos, o pó branco sobre os porta-retratos me enchia as narinas e eu me injetava vaga-lumes na veia até o amanhecer. Era mais uma crise da minha doença e nem as folhas […]
Os barulhos do mundo embrutecem os ouvidos. Sirenes. Um cão late para o caminhão do lixo. Uma briga no quarto ao lado. Vidro. Vidro se quebrando como a coluna vertebral de um anjo. Acho que é o vinho: após o rascante de um vinho barato no paladar, sempre sobram imagens poéticas sobre coisas banais: a […]
O que é belo é breve. Um sorriso guardado Em um retrato empoeirado na estante, Um adeus sufocado Pela fumaça do trem que já parte. Um poema Que tenta do infinito apenas um instante. E a memória, fugaz, Desaprende o rosto, Os gestos, Até o gosto Do café da minha infância… É um vulto atrás […]
Eu enfio a língua na entrelinha, essa lasciva abertura entre dois versos fenda íntima de um poema! E aqui, aviso logo, não há chocolate na cobertura, também não é doce, nem autoajuda. É literatura, camarada, literatura! Eu enfio a língua na entrelinha, essa lasciva abertura entre dois versos, fenda íntima ao infinito! E aqui, aviso […]
A velhice é comparsa da infância. Cheguei a essa conclusão já adulto, ao me lembrar de tia Vivi na cadeira de balanço na varanda. Ela já estava bem velhinha, devia ter quase oitenta, e costumava passar os finais de semana na casa dos meus avós. Seus sorrisos traquinas contrastavam com as impiedosas valas que o […]